sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Demolidor: Diabo da Guarda

Desde que o Demolidor foi criado, é dito que o personagem é católico praticante, sendo inclusive comentado o tempo todo a ironia que é ele se vestir de demônio (do nome original do personagem, Daredevil). Mas acho que Kevin Smith talvez tenha sido quem melhor explorou a religiosidade de Matt Murdock, no excelente arco Diabo da Guarda, sendo um dos responsáveis por aumentar as vendas da revista do Demolidor.

A história começa quando uma adolescente e o bebê dela estão sendo perseguidos por assassinos e acabam sendo salvos pelo defensor da Cozinha do Inferno. Mas o que parecia um simples salvamento, se complica quando a jovem aparece no escritório de Matt e revela que
sabe a identidade secreta dele. Como se isso não fosse problema suficiente, a garota diz que o filho dela é a reencarnação de Cristo e que um anjo lhe disse que cabia ao Demolidor proteger a criança. A partir daí, Kevin Smith joga o herói envolvendo anjos e demônios, sendo que o Demolidor nunca tem certeza de quem é quem, muitas vezes achando até que está ficando louco. Em determinado momento, no auge da loucura, o Demolidor passa a acreditar que o bebê possa ser o Anti-Cristo.

Um dos grandes trunfos do roteiro de Smith é que
ele consegue deixar o leitor tão confuso quanto o próprio Murdock. E o final de cada capítulo sempre deixa um gancho que faz o leitor querer ler o capítulo seguinte imediatamente. Apenas o penúltimo capítulo é que eu achei muito chato, pois o vilão da história é revelado e ele fica só contando todo o plano mirabolante dele. Mas até nisso, Smith é genial: o vilão já começa o capítulo dizendo que sabe que todas essas explicações são chatas, mas que ele tem todo o direito de contar o plano audacioso dele. A história tem ainda participações especiais de outros heróis Marvel, como a Viúva Negra e o Homem-Aranha, além de mostrar uma grande perda na vida de Matt Murdock.


Kevin Smith é um cara que escreve muito, tanto diálogos quanto narração em off, e aí vale destacar o excelente trabalho do pessoal responsável pelas letras da história, que conseguiram organizar uma quantidade absurda de texto por página, sem prejudicar a excelente arte de Joe Quesada. Felizmente, o roteirista não usa seus textos para descrever o que já está sendo mostrado pelos desenhos (ouviu, Chris Claremont?). E falando em desenhos, o atual editor-chefe da Marvel estava em excelente forma quando desenhou essa história, com várias cenas de ação muito maneiras e momentos de tensão. Interessante também é como ele desenha Matt Murdock diferente em algum flashback, com corte de cabelo diferente e tal, fugindo daquela coisa que os personagens permanecem sempre iguais. A única coisa que achei estranha na arte dele foram os olhos dos personagens, parece que todos eles estão sempre olhando para cima. O único que fica perfeito com esse olhar é Matt Murdock, afinal, ele é cego.

Essa edição encadernada de Demolidor: Diabo da Guarda, publicada pela Panini, conta ainda com um prefácio escrito por Joe Quesada, contando como foi trabalhar com Kevin Smith, que ainda estava começando nos quadrinhos. No final da edição, temos um posfácio escrito por Kevin Smith, onde ele conta como foi escrever (e salvar) o Demolidor, que estava com as vendas baixas antes da chegada dele.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Carga Explosiva 3

O terceiro filme da franquia, que começou com Carga Explosiva e continuou com Carga Explosiva 2, é de longe o mais fraco dos três. Grande parte da diversão da série é o fato da história ser despretensiosa, servindo apenas como desculpa para as sequências de ação, assim como acontece em Adrenalina, também estrelado por Jason Statham. O problema de Carga Explosiva 3 é que o roteiro se leva a sério demais, com uma história de conspiração internacional. Enquanto nos primeiros dois filmes a ação era quase ininterrupta, neste acontecem intervalos muito grandes entre uma cena de ação e outra.

Outro vacilo da produção é a completa falta de criatividade do diretor Olivier Megaton. A maioria dos ângulos de câmera que ele usa já foram vistos em vários outros filmes de ação, não tem metade da inventividade do primeiro Carga Explosiva ou de Adrenalina. E, levando em conta que na história o motorista Frank Martin (Jason Statham) não pode se afastar do carro, Megaton perdeu uma ótima oportunidade de fazer sequências incríveis utilizando o veículo. Até mesmo as cenas mais empolgantes, como o carro andando só em duas rodas, ou pulando em cima de um vagão de trem, me deram a sensação de já ter visto aquilo em algum lugar.

Pelo menos a pancadaria, se não trouxe nada de novo, também não piorou em relação aos outros dois filmes. É sempre divertido ver Frank Martin lutar, principalmente pelo fato da principal arma dele ser o próprio terno, que ele usa para desarmar ou sufocar os inimigos. Pena que este filme não apresenta nenhum personagem bizarro para Frank Martin enfrentar, como a loirinha de Carga Explosiva 2, que só andava de lingerie pra cima e pra baixo.

O roteiro peca ainda por tentar desenvolver demais os personagens, perde-se muito tempo em diálogos desnecessários entre Frank e a garota que está no carro com ele. Na maior parte dessas cenas, a única coisa que eu conseguia pensar era "quando é que ele vai bater em alguém?". Filmes com roteiros interessantes e personagens bem trabalhados são sempre bem vindos, mas a série Carga Explosiva não é e nem deve ser assim. Infelizmente, parece que os roteiristas Luc Besson e Robert Mark Kamen (que também escreveram os outros dois filmes) esqueceram disso em Carga Explosiva 3.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Demolidor: O Homem Sem Medo

Demolidor: O Homem Sem Medo faz parte do selo Panini Books, que tem como objetivo apresentar histórias clássicas em um formato mais bem acabado, para ser vendido principalmente em livrarias. O acabamento, como de costume, é de luxo, com capa dura e páginas de qualidade, mas claro que nada disso valeria o preço (54 reais) se o conteúdo não fosse bom. Além de trazer uma excelente história de origem do Demolidor, escrita por Frank Miller e desenhada por John Romita Jr., a coletânea traz extras imperdíveis para qualquer colecionador de quadrinhos.

Todos que conhecem o Demolidor sabem como ele ganhou os sentidos aguçados: salvou um senhor de ser atropelado por um caminhão com produtos químicos e esses produtos acabaram atingindo o rosto do jovem Matt Murdock, deixando ele cego, mas com
todos os outros sentidos ampliados. Então, o que poderia ter de interessante e que ainda não foi contado? Miller e Romita Jr. nos mostram que, a princípio, os sentidos ampliados eram mais uma maldição do que uma benção, para Matt. Além disso, Frank Miller aproveita a história para mostrar como Demolidor, Stick e Elektra estavam ligados há anos. Em certo momento da HQ, um aliado do Stick comenta com ele que Matt Murdock e Elektra eram os dois escolhidos para algo grandioso, mas que a ninja grega já tinha ido para o caminho das trevas, sendo importante então que Murdock não fosse abandonado.

Mas uma das partes mais interessantes da história é quando Matt está na faculdade, onde conhece seu grande amigo Foggy Nelson. E é nessa época que ele também conhece Elektra Natchios, sua grande paixão e adversária. Na revista mensal do Demolidor, Frank Miller tinha mostrado Elektra como assassina de aluguel e que tinha escolhido essa vida depois da morte do pai. Mas em O Homem Sem Medo, nós vemos uma Elektra totalmente louca, que já cometia vários assassinatos muito antes do pai dela morrer. E tudo em nome de umas vozes que ela dizia escutar.

O capítulo fin
al conta o primeiro encontro entre Matt Murdock e as operações criminosas do Rei do Crime. Wilson Fisk ainda estava começando seu império criminoso e acaba sequestrando uma amiga de Matt. A partir daí, aparecem, na minha opinião, os melhores desenhos de John Romita Jr. na história. As cenas de violência e de perseguições que ele desenha são muito legais. Interessante também deste capítulo é que a roupa preta que Matt usa para não ser reconhecido lembra bastante o uniforme dele naquele horrível filme do Hulk, O Julgamento do Incrível Hulk.

Ao final desta bela história, que foi publicada originalmente em cinco partes, podemos entender um pouco mais da personalidade do Demolidor e porque ele faz o que faz.

Mas como eu disse lá no começo, a diversão não termina com o fim da história, ainda temos os extras. São páginas e mais páginas de roteiros escritos por Frank Miller, além de desenhos de John Romita Jr. que não foram utilizados na história. É muito interessante ler as instruções que Miller deixa para Romita nos roteiros, pedindo para ele não esquecer de coisas que já tinham aparecido na revista mensal do Demolidor. Tem até um bilhete que Frank enviou para John e Ralph Macchio (editor do Demolidor), que mostra o quanto o roteirista gostava e se importava com o personagem, fazendo de tudo para que nada entrasse em conflito com a cronologia. No final, tem um pequeno texto escrito por John Romita Jr., contando como foi toda a concepção desse projeto, do ponto de vista dele. É bem engraçado.

E aguardem a resenha de Demolidor: Diabo da Guarda.

domingo, 25 de outubro de 2009

Adrenalina 2: Alta Voltagem

Adrenalina 2: Alta Voltagem começa exatamente onde o primeiro terminou, com Chev Chelios (Jason Statham) caído no chão, aparentemente morto. Aparentemente porque o cara simplesmente conseguiu sobreviver à queda do helicóptero no primeiro filme. E não espere respostas para essa síndrome de Superman durante a história, pois assim como acontece em Adrenalina, o mais importante aqui são as insanas sequências de ação e não a história. Dessa vez, Chelios é sequestrado, logo após despencar do céu, e seu coração é retirado e substituído por uma máquina movida a bateria. A partir daí, o protagonista precisa de constantes choques elétricos para manter a bateria carregada e o "coração" substituto funcionando, enquanto vai atrás de quem roubou seu coração.

A intenção dos diretores Mark Neveldine e Brian Taylor nessa sequência foi aumentar tudo que já tinha sido mostrado no primeiro filme. Então, espere por cenas de ação ainda mais absurdas, além de situações totalmente bizarras. O problema disso é que, apesar do filme ser divertido, o tempo todo fica aquela sensação de estar assistindo mais do mesmo. Chev Chelios continua correndo pra cima e pra baixo e batendo em todo mundo, além de estar sempre se torturando para manter o coração dele batendo. Até a cena de sexo entre Chelios e a namorada, na frente de uma multidão, aparece novamente neste segundo filme.

Quem gostou do primeiro filme, provavelmente vai gostar de Adrenalina 2: Alta Voltagem, mesmo não tendo muitas novidades. O ideal é assistir os dois na sequência porque é basicamente uma história dividida em dois filmes. Mas para os que gostam de roteiros elaborados e com reviravoltas mirabolantes, passe longe, porque no universo de Adrenalina nada faz sentido, mas é divertido pra cacete.

Anticristo

Desde que causou polêmica no Festival de Cannes, Anticristo chamou minha atenção, afinal, eu fiquei curioso para saber se o filme era realmente tão chocante quanto diziam. E parece que a produção foi feita mesmo para chocar, ela não tem muitas cenas de violência física, mas quando aparece alguma, elas são bem impactantes.

Anticristo conta a história de um casal que, após a morte do filho, resolve se isolar em uma cabana no meio da floresta, para tentar superar a perda. O diretor Lars Von Trier já causa polêmica desde o começo do filme, com uma cena de sexo explícito entre o casal, alternando com cenas do filho deles indo em direção à morte. Essas cenas do prólogo são muito bonitas, todas em câmera lenta e em preto e branco, contando a tragédia do casal. A partir daí, o filme se mostra um terror psicológico, com o marido tentando tratar a depressão da esposa e ela parecendo que vai surtar a qualquer momento.

O problema dessa polêmica toda que o filme causou é que pessoas que esperavam ver um pouco mais de violência, como eu, acabam se decepcionando. Anticristo está mais para um filme de arte, com longas cenas contemplativas, com os personagens se movendo em câmera lenta. Mas a coisa começa a esquentar no final, quando a produção começa a tomar ares de um torture-porn, como O Albergue, porém com uma história decente. Em uma das cenas, o marido toma uma porrada no pênis que é impossível algum homem não se revirar na cadeira enquanto estiver assistindo o filme.

Para os fãs do gênero gore, que esperam sempre ver muito sangue, Anticristo não é a opção mais recomendada, apesar do final impactante. Mas quem gosta de filmes de arte, esse pode ser uma boa pedida, mas prepare-se para se impressionar com algumas cenas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Superman: O Legado das Estrelas

Quem é fã de quadrinhos de super-heróis, sabe como é difícil encontrar boas histórias do Superman. O personagem é poderoso demais e às vezes parece que os roteiristas ficam meio sem saber o que fazer, não sabem como criar desafios para o herói, nem trabalhar sua mitologia. Felizmente, isso é válido mais para as séries mensais do herói (se bem que o Geoff Johns vem fazendo um excelente trabalho), já que em minisséries fora da cronologia o personagem geralmente tem boas histórias, como em All-Star Superman, de Grant Morrison. E foi uma dessas séries que chamou minha atenção recentemente: O Legado das Estrelas, escrita pelo roteirista Mark Waid (o mesmo do clássico O Reino do Amanhã) e ilustrada por Leinil Francis Yu. A história foi originalmente publicada em 12 partes, entre os anos 2003 e 2004, mas só agora tive a oportunidade de ler esta obra, em um encadernado lançado em 2006 pela Panini.

Nessa maxissérie, Mark Waid reconta a origem do homem de aço, trazendo de volta elementos clássicos do Superman pré-crise, que foram apagados por John Byrne na sua reformulação após Crise nas Infinitas Terras, em 1985. Entre esses elementos estão a amizade entre Clark Kent e Lex Luthor, na adolescência, e o fato de Kal-El já ter poderes desde a infância. Além disso, na versão de Byrne, Krypton é mostrado como um planeta frio e sem emoções e o Superman não tem nenhuma ligação afetiva com o planeta. Já em Legado das Estrelas, Krypton alcançou a paz depois de vários anos de guerra, é mostrado quase como um paraíso perdido, e o Super vive querendo descobrir mais sobre sua herança.

A história começa mostrando o momento em que Jor-El e Lara enviam o pequeno Kal-El para a Terra, na esperança de que ele sobreviva após a destruição de Krypton. Antes de colocar o bebê na nave, Lara o enrola em u
m pano azul e vermelho, contendo a insígnia da família El, o S vermelho, além de colocar junto dele um livro contendo toda a história do planeta. Após o foguete cair em Smallville, a história dá um salto e vemos Clark Kent, com 25 anos de idade, na África para escrever uma matéria sobre um candidato ao senado que sonha com o dia que sua tribo não será mais escrava. E é em meio a alguns atentados e tragédias que o jovem Clark resolve que precisa dar um jeito de usar seus poderes para ajudar as pessoas, mas sem ser reconhecido. Ele volta então para Smallville, onde cria o uniforme de Superman e o disfarce de rapaz tímido. Na origem contada por Byrne, Clark Kent era a verdadeira personalidade do herói e cheio de auto-confiança, bem diferente da proposta original de quando o personagem foi criado. Além de trazer de volta o Clark tímido e atrapalhado, Mark Waid mostra o porque dos óculos funcionarem como disfarce. É uma explicação meio besta, mas tudo bem.

A partir daí, ve
mos o azulão chegando em Metrópolis e tendo seu primeiro contato com Lois Lane, Jimmy Olsen e Perry White, além de se reencontrar com seu amigo de infância Lex Luthor. A história entre Luthor e Clark é contada através de flashbacks, que explicam o porque do vilão ser obcecado por extraterrestres. Na época do lançamento da série, lembro de ter visto gente reclamar alegando que a DC estaria colocando coisas do seriado Smallville só para atrair mais leitores. Mas a verdade é que a amizade entre Clark e Lex é algo da mitologia pré-crise, a única diferença é que o vilão era amigo do Superboy e não de Clark. E por falar em retorno às origens, Mark Waid escreve um Superman um pouco mais violento do que estamos acostumados, lembrando que nas primeiras histórias do homem de aço ele não tinha o menor pudor em espancar bandidos que não tinham poderes. Em uma determinada cena de Legado das estrelas, o Superman atira na direção de um bandido a apanha a bala pouco antes dela acertar o rosto do sujeito, tudo para lhe mostrar como se sente uma pessoa que tem uma arma apontada bem na cara. É muito legal ver o Super agindo de forma diferente daquele escoteiro que estamos tão acostumados.

É claro que boa parte da história se concentra na luta do Superman contra Lex Luthor que, na falta de super poderes, começa uma campanha para desacreditar o azulão. Para isso, o vilão cria uma máquina capaz de enxergar o passado de Krypton e passa a usar as imagens de guerreiros kryptonianos para dizer que a Terra está prestes a ser invadida. É claro que Luthor também usa a Kryptonita contra o herói, afinal, não seria uma história do Superman se ñ tivesse a pedra verde. E o final é emocionante, dando a entender que Jor-El e Lara sabima desde o início que tudo daria certo para o filho deles.


Legado das Estrelas não é uma história revolucionária, não chega aos pés de All-Star Superman, mas agrada aos fãs de longa data do Superman, principalmente aqueles que, assim como eu, nunca gostaram das reformulações feitas pelo John Byrne. E pra quem nunca leu uma história sobre a origem do herói, essa pode ser um bom ponto de partida. Eu só senti falta mesmo foi da Fortaleza da Solidão. E é bom lembrar que, apesar de Legado das Estrelas não fazer parte da cronologia oficial do Superman, vários elementos mostrados na história estão voltando a fazer parte do universo do azulão. Geoff Johns tem escrito um Clark Kent tímido e a cidade engarrafada de Kandor voltou a aparecer na série mensal do herói. Além disso, a DC vai lançar uma nova origem do homem de aço, mostrando a sua juventude como Superboy e a amizade com Lex Luthor na adolescência, tudo com roteiros de Geoff Johns e desenhos de Gary Frank, na minha opinião o cara que nasceu para desenhar o Superman.

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